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Ferreira Gullar morre aos 86 anos no Rio

O poeta, escritor, jornalista e dramaturgo Ferreira Gullar morreu neste domingo (4) no Rio, aos 86 anos, vítima de uma pneumonia. Ele estava internado havia 20 dias no Hospital Copa d’Or, em Copacabana, devido a complicações pulmonares.

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O velório começou na tarde deste domingo na Biblioteca Nacional, no Centro, e continua nesta segunda (5), às 9h, na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL). Às 15h, o corpo segue para o mausoléu da ABL, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, onde será enterrado. 

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Gullar era membro da ABL desde 2014. Na instituição, ocupava a cadeira de número 37, por onde já haviam passado Assis Chateaubriand e João Cabral de Melo Neto.

“Foram 30 anos dizendo não. Comecei a me sentir constrangido”, disse ele, na ocasião, ao Metro Jornal. O acadêmico também foi indicado ao Prêmio Nobel de Literatura em 2002 e recebeu, em 2010, o Prêmio Camões – principal honraria da literatura em língua portuguesa.

Nascido em São Luís do Maranhão em 10 de setembro de 1930, José de Ribamar Ferreira – como foi registrado – torna-se poeta ainda na adolescência a partir da influência de autores românticos e parnasianos. O contato com a poesia moderna, no fim dos anos 1940, o leva a se mudar para o Rio, em 1951, logo após a publicação de seu primeiro livro, “Um Pouco Acima do Chão” (1949).

Na então capital do país, surge a primeira obra de destaque no cenário literário, “A Luta Corporal” (1954).

No início dos anos 1960, já reconhecido, o poeta aceita dirigir a Fundação Cultural, em Brasília, a convite de João Goulart. O novo cargo o faz a se envolver com a luta pela reforma agrária no país e a se filiar ao Partido Comunista, o que deságua em uma produção poética ligada à política.

Perseguido pela ditadura militar brasileira, embarca nos anos 1970 em uma peregrinação de exílio que passa pela União Soviética, Chile, Peru e Argentina, onde escreve “Poema Sujo” (1975).

Com quase cem páginas, a obra é tida como a mais ousada do artista e sintetiza o esforço continuado de sua carreira em buscar reinventar a própria linguagem.

O autor publicaria ainda, entre outras obras, “Antologia Poética” (1977), “Na Vertigem do Dia” (1980), “O Formigueiro” (1991), “Muitas Vozes” (1999) e “Em Alguma Parte Alguma?” (2010), seu último trabalho dedicado à poesia, pelo qual recebeu o Prêmio Jabuti de Livro do Ano em 2011.

“A poesia é o espanto. Ela surge da perplexidade diante da vida. Não tenho me espantado com nada nos últimos tempos. Não sei se lançarei outro livro de poemas”, disse ele ao Metro Jornal em 2013.

Seu derradeiro livro foi “Autobiografia Poética e Outros Textos” (Ed. Autêntica).Lançado este ano, o volume repassa a trajetória do poeta a partir de suas próprias obras.

Ferreira Gullar deixa dois filhos, oito netos e a companheira Cláudia, com quem vivia atualmente.  

Gullar atravessou artes, teatro e música

Ferreira Gullar transitou por diversas linguagens e teve ação direta em movimentos artísticos determinantes para o panorama cultural do país.

Em meados dos anos 1950, o poeta se envolveu com o concretismo ao lado de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, com os quais romperia na sequência.

No fim dessa década, seu encontro com Lygia Clark, Hélio Oiticica, Amilcar de Castro, Franz Weissmann e Lygia Pape o fez aderir ao movimento  neoconcretista, para o qual escreveu um manifesto no qual exaltava as possibilidades criadoras dos artistas e a participação do público na realização da obra.

A instalação “Poema Enterrado” (1959) segue esses preceitos: o visitante entra em um cubo e vai retirando outros três cubos pequenos, no centro, até encontrar a palavra “enterrada”.

Gullar atuou ainda nas artes cênicas e ajudou a fundar o Teatro Opinião, que teve papel de destaque na luta contra a ditadura nos anos 1960. Para ele, escreveu peças como “A Saída? Onde fica a Saída?”.

Após o exílio, nos anos 1970, o escritor voltou ao Rio, onde atuou como crítico de arte e roteirista de TV, além de letrista: são dele as palavras de músicas como “Borbulhas de Amor”, cantada por Fagner, e “Trenzinho Caipira”, de Villa-Lobos.  

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