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Elke Maravilha morre aos 71 anos no Rio de Janeiro

A atriz Elke Maravilha morreu no Rio de Janeiro no início da madrugada desta terça-feira (16), aos 71 anos de idade. Ela estava internada há quase um mês para tratar uma úlcera e chegou a ser operada na Casa de Saúde Pinheiro Machado, em Laranjeiras.

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«Avisamos que a nossa Elke já não está por aqui conosco. Como ela mesmo dizia, foi brincar de outra coisa. Que todos os deuses que ela tanto amava estejam com ela nessa viagem. Eros anikate mahan (O amor é invencível nas batalhas). Crianças, conviver é o grande barato da vida; aproveitem e convivam», escreveu sua família na página oficial da artista no Facebook.

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Antes de ser internada, Elke fazia turnê pelo Brasil com o espetáculo «Elke Canta e Conta», onde falava sobre a vida pessoal e a carreira – desde a infância na Rússia até os casamentos e a profissão como apresentadora no Brasil.

Carismática e bem-humorada, com um estilo irreverente e ousado de ser, a atriz, modelo e apresentadora Elke Georgievna Grunnupp era russa, nascida na então Leningrado, hoje São Petersburgo, em 22 de fevereiro de 1945.

Filha de um russo e de uma alemã, ela tinha seis anos quando sua família emigrou para o Brasil, fugindo de perseguições políticas do stalinismo soviético. O casal e os três filhos, privados da cidadania russa, se estabeleceram em um sítio em Itabira (MG) e, mais tarde, em outra cidade mineira Jaguaruçu.

Naturalizada brasileira, Elke saiu de casa aos 20 anos para morar sozinha no Rio de Janeiro, onde arrumou emprego como secretária bilíngue, valendo-se de sua fluência em oito idiomas, muitos deles aprendidos no próprio ambiente familiar. Fluência que a levou a formar-se em Letras e a trabalhar como professora, tradutora e intérprete de línguas estrangeiras.

Começou a carreira de modelo no final da década de 60, desfilando para o estilista Guilherme Guimarães. Trabalhou para outros grandes estilistas e logo ficou famosa no mundo da moda, projetando uma imagem que simbolizava transgressão e liberação.

Foi nos desfiles que conheceu a estilista Zuzu Angel, de quem ficou amiga. Na época, em pleno regime militar, Zuzu denunciava ao mundo o desaparecimento de seu filho Stuart Angel Jones, que hoje o Brasil sabe ter sido torturado e morto por agentes da ditadura na Base Aérea do Galeão.

No final de 1971, Elke foi presa no Aeroporto Santos Dumont, depois de rasgar, aos gritos de “covardes! Como ousam? Vocês já o assassinaram!”, cartazes de procurado com a fotografia de Stuart. Enquadrada na Lei de Segurança Nacional, Elke teve a cidadania brasileira cassada, tornando-se apátrida. Anos depois, requisitou e obteve a cidadania alemã, a única que passou a possuir.

A essa altura, já havia iniciado carreira de atriz, no cinema, com o nome artístico que a consagrou, dado pelo jornalista Daniel Más, espanhol naturalizado brasileiro e colunista social de vários jornais cariocas. Em 1972, Elke Maravilha surge na televisão, como jurada do programa do «Velho Guerreiro” Abelardo Chacrinha Barbosa.

Na televisão, foi também jurada do «Show dos Calouros», de Sílvio Santos, apresentou o talk show Elke, no SBT, além da novela «A volta de Beto Rockfeller», na TV Tupi (1973) e da minissérie «Memórias de um Gigolô» (1986), na TV Globo, entre outras papéis e participações especiais.

No cinema, foram 28 filmes, a começar por «Barão Otelo no Barato dos Bilhões» (1971), passando por títulos como Xica da Silva (1976), de Cacá Diegues, «Pixote, a lei do mais fraco» (1981), do recém-falecido diretor Hector Babenco, e até mesmo o filme biográfico sobre Zuzu Angel, no qual aparece em participação especial cantando num cabaré a música alemã «Lili Marlene», sucesso de Marlene Dietrich. Nesse filme, a própria Elke foi personagem, interpretada pela atriz Luana Piovani. Atuou ainda em 11 peças teatrais.

A morte de Elke causou comoção nas redes sociais, onde amigos e personalidades lamentaram a perda. Veja algumas das mensagens:

Leandro Karnal, historiador: «Conheci Elke Maravilha no Rio de Janeiro. Ela assistiu a uma aula minha e saímos duas vezes para jantar. Era culta, poliglota uma alma sensível sob uma fantasia divertida e extravagante. Vivia tudo com fogo e ímpeto. Falava com criatividade sobre literatura russa, alemã, francesa, filmes pornôs, Chacrinha, preconceito e tantas coisas. Lamento sua morte.»

Eduardo Suplicy, político: «Recebi, com muito pesar, a notícia da morte da atriz Elke Maravilha. Russa radicada no Brasil desde a infância, ela fez mais do que filmes, peças teatrais e novelas. Elke foi presa durante o regime militar e lutou por diversas bandeiras, dentre elas a de garantias dos direitos LGBT. Sua alegria e seu espírito libertário sempre estarão conosco!».

Leoni, cantor: «Que pena a morte da Elke Maravilha. Era uma turbina de alegria!».

Luana Piovani, atriz: «Todo meu amor Elke, todo ele…Senhor meu Deus deve ter recebido você docemente».

Wanessa Camargo, cantora: «Existem pessoas que sentimos como eternas nesse mundo, e com certeza em meu coração Elke Maravilha será! O mundo fica menos colorido hj! Essa vai fazer falta! Única! Simplesmente Elke!».

 

Relembre a trajetória da atriz:

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