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Filho de motorista de app reage após ‘desculpas’ de condutor de Porsche: “Não senti arrependimento”

Família pediu justiça pela morte de Ornaldo Viana; Fernando Sastre teve a prisão decretada e está foragido

Motorista de Porsche teve a prisão decretada e está foragido
Lucas Silva, filho de Ornaldo Viana, suspeita de pedido de desculpa feito pelo empresário Fernando Sastre: "Não senti arrependimento" (Reprodução/TV Globo)

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O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, que dirigia um Porsche que colidiu contra um Renault Sandero, na Zona Leste de São Paulo, pediu “desculpa” à família do motorista de aplicativo Ornaldo Viana, de 52, que morreu na batida. Em entrevista ao “Fantástico”, da TV Globo, os filhos da vítima disseram que não sentiram que o condutor do carro de luxo se arrependeu de verdade e pediram justiça pela morte do pai.

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Questionado pela reportagem sobre o que diria à família de Ornaldo, Fernando disse: “Eu pensei: ‘e se fosse o meu pai?’. Então eu sei que não tem nada que a outra parte pode fazer, pode me dar, que vai trazer o meu pai de volta. Mas eu sei que, talvez, a única coisa que seria ali para aquele momento seria um pedido de desculpas sincero, assim do fundo do coração” (assista no vídeo abaixo).

Lucas Morais da Silva, filho de Ornaldo, disse o que achou do pedido de Fernando: “Para ser sincero, eu não senti nele um pingo de arrependimento. Não senti uma emoção vinda da parte dele. Tanto que, depois que eu vi as filmagens das câmeras dos policiais [que atenderam à ocorrência], se você olha ali, ele sequer pergunta do meu pai. E a mãe dele muito menos (...) Pra você tentar perdoar uma pessoa, você tem que pelo menos sentir um arrependimento. Eu não senti. Para mim, trataram meu pai como um nada”, afirmou.

Outro filho de Ornaldo, Luan Morais da Silva cobrou que as autoridades façam justiça pela morte da vítima. “Eu parei um pouco para ouvir os áudios que meu pai me mandava, brincando, e cara, caí no choro. Eu espero que a justiça, a partir de agora, continue sendo feita”, disse o rapaz.

Por fim, Lucas falou sobre a decretação da prisão preventiva de Fernando. “A prisão dele dá um sentimento, uma lavada de paz, porque ele tirou a vida de uma pessoa. Tirou a vida de um pai de família”, ressaltou.

Francilene Morais de Caldas, viúva de Ornaldo, reafirmou as falas do filho. “Ele tem que ficar lá [preso]. Meu esposo estava trabalhando, estava vindo do trabalho. Agora ele, como se fala, estava vindo de uma balada, né”, disse a mulher.

Motorista nega embriaguez

Fernando, que teve a prisão preventiva decretada pela Justiça e é considerado foragido, ressaltou que “tomou água” e ainda questionou a perícia que apontou alta velocidade.

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“Então, dentro do carro não tive essa sensação de que eu estava em tamanha velocidade. Inclusive, eu acho que seria válido uma segunda perícia, uma segunda análise, pra ter certeza dessa aferição”, questionou ele.

Fernando explicou os motivos de ter deixado do local do acidente ao lado da mãe e porque não seguiu a um hospital, como eles disseram aos policiais militares que fariam. “Na verdade, o que aconteceu foi que a minha mãe, ela estava me socorrendo”, disse ele. “A gente permaneceu ali no local por mais de uma hora, uma hora e meia, não consigo nem recordar, mas ficou bastante tempo ali”, ressaltou.

Imagens de body cams dos PMs que atenderam a ocorrência mostram que o rapaz ficou cerca de 40 minutos no local, quando a mãe dele insistia para que fosse levado a um hospital. Após dizer que prestaria o socorro, Fernando e a genitora foram liberados pelos policiais, sem fazer o teste do bafômetro. Porém, ele sumiu e só compareceu a uma delegacia mais de 38 horas depois do acidente.

“A minha mãe passa em casa para eu pegar a minha carteirinha do convênio. Quando eu chego em casa, eu tenho um alto descontrole, eu fico muito nervoso por tudo aquilo que está acontecendo. E aí ela me dá um remédio. E aí eu... apago”, explicou o condutor do carro de luxo.

Fernando negou que tenha sido beneficiado pela PM. “Eu não tive nenhum tratamento privilegiado”, disse o empresário. “Fui tratado como qualquer um”, ressaltou ele.

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo reconheceu que os PMs erraram ao deixarem o empresário ir embora sem fazer o teste do bafômetro e explicou que eles serão responsabilizados. Não foram repassadas outras informações, pois o caso corre em sigilo.

Prisão preventiva decretada

Após três negativas, o Ministério Público recorreu e a Justiça decretou a prisão preventiva de Fernando na noite de sexta-feira (3). Por enquanto, são realizadas diligências, mas ele ainda não foi preso e é considerado foragido.

O advogado Jonas Marzagão, que defende o empresário, disse ao “Fantástico” que recorreu da medida e que seu cliente só vai se entregar quando receber do juiz a garantia de que estará seguro na cadeia.

O condutor do carro de luxo virou réu no caso e responde por homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima, ambos na modalidade dolo eventual.

A denúncia sustentou que Fernando assumiu o risco de matar o motorista de aplicativo Ornaldo Viana, de 52 anos, que seguia no Sandero. Além de estar a mais de 150 km/h, sendo que a máxima permitida na via é de 50 km/h, testemunhas afirmam que o condutor de carro de luxo estava embriagado.

Segundo o MP-SP, o empresário também cometeu o crime de lesão corporal gravíssima contra o amigo, Marcus Vinicius. Após ter alta do hospital, ele teve complicações no quadro de saúde e voltou a ser internado.

Contando do último dia 30, Fernando tem um prazo de 10 dias para apresentar sua defesa. Além disso, o juiz determinou um prazo de 15 dias para que a conclusão dos laudos periciais solicitados pelo MP-SP sejam anexados ao processo.

Depois dessa etapa, o juiz poderá pronunciar o réu, ou seja, submetê-lo a júri popular. Se condenado, ele poderá pegar mais de 20 anos de prisão.

Polícia investiga o caso
Fernando Sastre de Andrade Filho (à esquerda) dirigia Porsche quando bateu na traseira de Sandero, matando o motorista de app Ornaldo da Silva Viana (Reprodução/Redes sociais)

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