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MP afirma que motorista de Porsche desrespeitou ordem judicial e combinou depoimento da namorada

Órgão pediu à Justiça a prisão de Fernando Sastre e o denunciou por homicídio e lesão corporal

Ele vai responder pela morte do motorista de aplicativo
MP denunciou e pediu a prisão de Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, que conduzia Porsche que bateu em Sandero (Reprodução/TV Globo/X)

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O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) afirma que o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, que dirigia um Porsche que colidiu contra um Renault Sandero, descumpriu uma ordem judicial de não se aproximar de vítimas e testemunhas. Segundo o órgão, o rapaz esteve com a namorada após o acidente e combinou o que ela diria em depoimento à polícia. O órgão denunciou o condutor do carro de luxo por homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima e pediu a prisão dele à Justiça.

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Na denúncia, a promotora Monique Ratton destacou que o empresário recebeu uma série de medidas cautelares ao ter a prisão negada após o acidente, entre elas a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), a fiança no valor de R$ 500 mil, além da ter sido proibido de se aproximar de vítimas e testemunhas da colisão.

Apesar das restrições, ele teria se encontrado com a namorada, Giovanna Pinheiro Silva, antes da jovem prestar depoimento à polícia, no último dia 9 de abril. Ela foi a única testemunha a contar que o empresário não tinha consumido bebidas alcoólicas antes do acidente.

“Havia receio — no primeiro pedido de prisão — de que a testemunha e namorada do acusado, Giovana, fosse por ele compelida, pressionada e convencida a dar versão diversa”, escreveu a promotora. “Receio que veio a se concretizar”, ressaltou Monique.

Além de negar a embriaguez do namorado, Giovanna também disse em depoimento que Fernando e mãe tinham sido liberados por policiais militares para irem a um hospital. Porém, a jovem não estava presente quando os fatos ocorreram. Imagens das body cams dos PMs mostraram o empresário apenas com a genitora. “Pelas imagens das câmeras corporais dos policiais, ela nem sequer presenciou tais fatos”, escreveu a promotora.

Assim, Monique destacou que as falas da namorada foram “efetivamente contaminadas” e “totalmente forçosas e tendenciosas”, o que deixa claro que houve contato com o namorado, configurando o descumprimento da ordem judicial.

As defesas do empresário e da namorada não foram encontrados para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.

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Denúncia e pedido de prisão

O MP-SP ofereceu denúncia contra Fernando Sastre pelos crimes de homicídio doloso qualificado e lesão corporal gravíssima, ambos na modalidade por dolo eventual. O órgão também quer que a Justiça decrete a prisão preventiva do rapaz, que por enquanto segue respondendo em liberdade.

A denúncia ainda vai ser analisada pelo juiz Roberto Zanichelli Cintra, da 1ª Vara do Júri, que vai decidir se torna o empresário réu no caso. O magistrado também vai definir sobre a prisão preventiva, sendo que ele mesmo já negou dois dos três pedidos de detenção feitos pela Polícia Civil.

Em comunicado oficial, assinado por Monique, o MP-SP destacou que a prisão de Fernando é necessária “para evitar que o denunciado, como já fez ao longo das investigações, influencie as testemunhas”.

Na denúncia, a promotora ressaltou que Fernando assumiu o risco de matar o motorista de aplicativo Ornaldo Viana, de 52 anos, que seguia no Renault Sandero . Uma perícia apontou que o empresário estava a mais de 150 km/h, sendo que a máxima permitida na via é de 50 km/h. Além disso, testemunhas afirmam que o condutor de carro de luxo estava embriagado. Como deixou o local do acidente, ele não passou pelo teste do bafômetro e nega ter feito o consumo de bebidas alcoólicas.

Segundo a promotora, o empresário também cometeu o crime de lesão corporal gravíssima contra o amigo, Marcus Vinicius Machado Rocha, que estava com ele no Porsche e ficou gravemente ferido. O rapaz já teve alta do hospital e, em depoimento, revelou que o empresário fez sim consumo de drinks.

O MP-SP, no entanto, não denunciou o empresário pela fuga do local do acidente. No entendimento da promotora, Fernando foi embora com a mãe com o aval da Polícia Militar, assim, teve a devida permissão. A mãe do empresário, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, que o levou dizendo que iriam para um hospital, mas não o fez, também não foi responsabilizada criminalmente.

Relembre o caso

O acidente entre o Porsche e o Renault Sandero ocorreu na madrugada do último dia 31 de março, na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo. Um vídeo mostrou quando o carro de luxo passou em alta velocidade e atingiu o carro do motorista de aplicativo Ornaldo Viana, que ficou gravemente ferido e teve a morte confirmada no hospital.

As imagens das body cams dos policiais mostram quando os agentes perceberam que Fernando estava indo embora do local do acidente e foram atrás dele. Ao perguntarem se ele conduzia o Porsche, o rapaz ficou sem responder e a mãe dele, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, disse que precisa levá-lo urgentemente ao hospital “para fazer uma tomografia”. Bastante nervosa, a genitora insistia a todo momento para ir embora com o empresário.

Os agentes pediram os documentos do rapaz e afirmaram que precisam preencher a ocorrência. Testemunhas passavam e é possível ouvir uma dizendo que o Porsche “estava em alta velocidade”. Fernando afirmava que estava bem, mas foi rebatido por Daniela, que disse: “seu nariz está sangrando”. Questionado sobre a batida, o rapaz alegava que não “se lembrava de nada”.

O empresário perguntou sobre o amigo, o estudante de medicina Marcus Vinicius Machado Rocha, que ficou ferido no acidente e foi socorrido ao Hospital São Luiz. A mãe de Fernando afirmou aos policiais que também iria levar o filho para lá e ressaltou que o rapaz bateu a cabeça e precisava ser examinado. “Cada minuto conta”, pontuava Daniela.

Na sequência, após preencher os dados da ocorrência, uma policial pediu que o empresário assinasse o documento por meio de digital e perguntou para a mãe para onde ela pretendia levá-lo. “Pro São Luiz”, respondeu a genitora, que logo questionou se eles podiam seguir. “Pode ir”, disse a PM.

Uma sindicância da Polícia Militar concluiu que os agentes erraram ao liberar o empresário. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), os policiais militares envolvidos deverão ser responsabilizados.

Apesar da promessa da mãe, Fernando não foi para o hospital e só compareceu a uma delegacia mais de 38 horas após o acidente, quando já não era mais possível fazer o teste do bafômetro. O empresário nega ter feito consumo de bebida alcoólica antes da batida, o que foi confirmado pela namorada dele.

Porém, o jovem Marcus Vinicius contou à polícia que o empresário consumiu alguns drinques e “deu uma acelerada” ao volante antes do acidente.

Outras testemunhas do acidente também disseram à polícia que viram Fernando “cambaleando e com a voz pastosa”, com sinais visíveis de embriaguez. Uma mulher, que chegou ao local logo após a batida, afirma que tinham três garrafas de vidro dentro do carro de luxo.

Polícia investiga o caso
Fernando Sastre de Andrade Filho (à esquerda) dirigia Porsche quando bateu na traseira de Sandero, matando o motorista de app Ornaldo da Silva Viana (Reprodução/Redes sociais)

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