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Nicolas Cage vive ex-presidiário em ‘Cães Selvagens’, de Paul Shrader

Edward Bunker é um ex-presidiário que virou escritor e ator. Quentin Tarantino o escalou para ser o Mr. Blue, em “Cães de Aluguel”, no começo dos anos de 1990. Pouco tempo depois desse renascimento, com o nome projetado pela fama do filme, o escritor publicou “Cão Come Cão”, um romance que homenageia o cinema de Tarantino e serve de base para “Cães Selvagens”.

Dirigido pelo roteirista e diretor Paul Shrader, cujos créditos mais famosos ainda continuam sendo os roteiros de “Táxi Driver” e “Touro Indomável”, ambos dirigidos por Martin Scorsese, “Cães Selvagens” é um filme, por assim dizer, «tarantinesco».

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O problema é que essa palavra não é bem um elogio. “Cães Selvagens” é como um catálogo dos tiques que assombram a obra do diretor de “Pulp Fiction”, mas que, estranhamente, nas mãos dele funcionam. Aqueles que ousam fazer pastiche –e, sejamos justos, Shrader não é o único, e talvez seja um dos mais talentosos a tentar-– raramente (na verdade, praticamente, nunca) acertam.

Os protagonistas são três ex-presidiários contratados por um mafioso para sequestrar o bebê de um rival. Dada a origem da trama, espera-se, é claro, muito sangue, cabeças explodindo (sim, há) e violência gratuita.

Estilisticamente, o diretor abarrota o filme com mudanças de tons, de cores, de velocidade das imagens. Uma cena é em preto-e-branco, embora não faça sentido ou tenha necessidade desse recurso. Logo depois, outra é iluminada por um neon cafona que já era démodé nos anos de 1980, seguida de algo que parece saído de “Assassinos por Natureza”, e que deveria ter permanecido mesmo lá nos longínquos anos de 1990.

Troy (Nicolas Cage) é o mais centrado do trio. Diesel (Christopher Matthew Cook) é nervoso e imponente por conta de seu tamanho, enquanto Mad Dog (Willem Dafoe) faz justiça ao nome de cachorro louco logo na primeira cena, que não faria a menor falta se caísse fora do filme. E, logo de cara também, Shrader parece querer nos levar para dentro da cabeça desse personagem. Essa é uma viagem sem volta da qual o filme nunca se recupera.

O trio, que odeia a cadeia, é claro, também tem medo da vida do lado de fora. A ideia é, basicamente, conseguir um dinheiro para se aposentar e mudar para o Havaí.

Sem se aprofundar na psicologia ou na dinâmica pessoal ou social dos protagonistas, o filme os coloca por 93 minutos (parece bem mais) gritando um com o outro, atirando (não necessariamente um contra o outro) e assediando mulheres.

Há uma cena, em câmera lenta e granulada, um momento nostálgico no qual os três brincam num quarto de hotel atirando ketchup e mostarda um no outro. O que Shrader ou Wilder queriam dizer com esse interlúdio lúdico se dilui em meio às poças de sangue que encharcam o filme.

O resultado é uma confusão sem muita graça, repleta de estilos roubados, que talvez faça um comentário pertinente sobre o mundo cão da contemporaneidade – mas, para ter esse entendimento, é preciso uma dose de boa fé e aceitar o longa como uma comédia.

Em 2014, Shrader escreveu um post no Facebook reclamando por não ter obtido o corte final de seu “Vingança ao Anoitecer”. Ele começava o texto dizendo: “Nós perdemos a batalha, (o filme) foi tirado de mim.” Agora, com plenos poderes sobre seu novo trabalho, ele fez o que bem entendeu, e, por mais discutível que seja o resultado, seu senso de não se importar com ninguém exceto seu comprometimento artístico é louvável.

 

Assista ao trailer do filme:

https://www.youtube.com/watch?v=Nw_sfSia3wM

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