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Laert Sarrumor, do Língua de Trapo, diz que grupo continua crítico: ‘Não existe humor a favor’

Um dos grupos mais paulistanos da cidade completa 37 anos de estrada com disco novo após 23 anos sem inéditas. Em entrevista ao Metro Jornal, o líder da banda, Laert Sarrumor, diz que o grupo está fugindo da política, mas continua crítico: “Não existe humor a favor.”

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A esquerda festiva está de volta no novo disco?
Estamos fugindo dessa coisa de política. No primero disco, tínhamos o hino do PT, “Xote Banderoso”, que é praticamente a história do Lula. Mas hoje está tudo confuso e a banda também está. Temos no grupo aqueles que continuam de esquerda, temos uma ala de esquerda desiludida, e tem até uns com discurso coxinha mesmo, mas acredito que como um todo ainda temos uma postura crítica. Afinal, não existe humor a favor. Temos que criticar tudo! Mas, por incrível que pareça, o disco novo não entra em política. Atacamos mais comportamentos, como a dependência da tecnologia, questões sociais, educação e costumes.

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A banda tinha parado e está retornando?
Estamos em atividade desde que começamos em 1980. Só paramos três anos em 1987, mas em 1990 voltamos e desde então não paramos mais. O que acontece é que nossa primeira fase foi tão impactante que hoje em dia, com shows mais eventuais, muita gente pensa que paramos.

Tocam pouco por opção?
Infelizmente, no nosso caso, é uma consequência da crise mesmo. E vira um circuito vicioso. Tocamos pouco e, por isso, os músicos não conseguem sobreviver só da banda. Eu, por exemplo, faço trabalhos como ator e dublador, e isso acaba restringindo nossa atuação por causa das agendas individuais dos integrantes.

O novo disco teve três indicações ao Grammy Latino. Isso não teve impacto na agenda de shows?
Não. O que nos salva é o circuito de centros culturais, mas não podemos mais tocar tanto mesmo ou se aventurar na estrada. Temos dois avôs na banda! Por isso, aliás, atualmente somos mais seletivos.

Esse show no aniversário da cidade reafirma o DNA paulistano do grupo?
Ah, sim! Nosso trabalho continua bem paulistano. Assim como o Demônios da Garoa, nosso sotaque é bem urbano. Falamos da vida em São Paulo, dos bairros, Bixiga, Moema, falamos da pizza, da imigração, muitos elementos da cultura da cidade são retratados nas nossas letras.

Vê na cena atual algo semelhante ao movimento vanguarda paulistana no qual surgiu o Língua?
O que moveu a vanguarda paulistana era a vontade de fazer algo novo. Estava tudo muito estagnado e havia o teatro Lira Paulistana que era o elemento aglutinador. Acho que faltam espaços como o Lira hoje.

Em 1985, a banda teve a canção mais vaiada no Festival dos festivais da TV Globo. Como foi isso?
Achamos o máximo, me senti um Geraldo Vandré ou um Caetano Veloso. Tinha Chacrinha, Rita Lee e Tom Zé entre jurados. Essa turma fez a gente chegar entre os finalistas e não só a panela da Globo, ou a turma do Rio de Janeiro. A vaia no fundo foi por isso. Rolou um elemento bairrista.

E o nome da banda, como surgiu?
É uma expresão antiga, quer dizer língua afiada. Foi inspirada na canção “Dá Nela”, politicamente incorreta até no nome, do Ary Barroso e cantada por Francisco Alves. Usamos para abrir alguns shows. Nossa veia de humor sempre nos permitiu uns machismos moderados.

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