Em meio à preocupação e à curiosidade em torno da figura do cantor cearense, um relançamento joga o foco da discussão de volta às canções. A coletânea “Três Tons de Belchior” coloca três discos do cantor em formato remasterizado e com o encarte original de volta às prateleiras das lojas e dos principais serviços de streaming de música, como o Deezer e o Spotify.
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O relançamento celebra os 70 anos de vida do cantor e os 40 anos de gravação de seu quarto disco, o cultuado “Alucinação” (1976). É nesse álbum da Polygram, sua primeira grande gravadora, que Belchior lança alguns dos maiores clássicos de seu repertório, como “Apenas um Rapaz Latino-americano”.
Após passar por outras gravadoras nos anos seguintes, Belchior retornou à Polygram para gravar seus penúltimos discos de inéditas: “Melodrama” (1987) e “Elogio da Loucura” (1988). Esses dois álbuns completam o box que está sendo lançado pela Universal.
Apesar de “Alucinação” ser um dos álbuns mais reverenciados pelos fãs, os outros dois conseguem provar a qualidade sonora de Belchior – que à época inovava ao flertar com o eletrônico.
Mesmo sem nunca ter tido uma voz destacável, nessas obras o cantor mostra a razão de seu sucesso: suas composições ferozes, sempre atentas às dificuldades sociais do país e às contradições das classes dominantes. São exemplos dessa inteligência “Os Derradeios Moicanos” e “Todo Sujo de Batom”, presentes em “Melodrama”; e “No Maior Jazz” e “Kitsch Metropolitanus”, do álbum seguinte.
Vivendo em um autoexílio, Belchior passa a impressão de já ter dito tudo que queria dizer com sua obra – o problema é que muita gente não lhe deu ouvidos. EsSa é uma oportunidade de ouvir de novo “Velha Roupa Colorida”, por exemplo, e encontrar o veneno que ele esconde por baixo das rimas.